Sempre um convite
Ana Cristina Melo
A literatura de Lygia Bojunga funciona para mim como um convite que, desde o primeiro contato que tive com sua prosa fluente e mágica, eu aceitei. Chego a esta festa iluminada e cheia de convidados e, logo na entrada, sua linguagem cheia de oralidade, como quem senta à varanda no final da tarde para prosear, me intima a ficar à vontade, a participar das entranhas do seu texto; mais do que isso, do seu processo criativo. Passo horas envolvida com histórias que despertam sorrisos, lágrimas, silêncios. Às vezes tocam feridas, ou refletem as feridas dos que estão à minha volta. Mas tudo parece extremamente confortável e seguro, pois ela nos guia com mãos firmes, de quem sabe o que faz. Ao final, quando as luzes se apagam, a festa finda, minha mente não é mais a mesma. Ela está embebida da complexidade dos temas que Lygia aborda, anestesiada da energia que repousa nas entrelinhas. Fechada a história, anseio a seção “Pra você que me lê”, onde fico mais íntima, onde sento e escuto sua voz, vejo os bastidores dos tecidos que ela vai cerzindo com todo cuidado. Um lugar onde, inevitavelmente, olho pra trás e lamento a festa ter sido tão breve.
Termino de reler Fazendo Ana Paz e me sinto assim, eufórica, modificada. Já havíamos marcado esse encontro em 2006, quando li o livro pela primeira vez. Mas agora as linhas parecem novas, carregadas de significados diferentes. Um novo livro escrito com a cumplicidade da nova pessoa que eu sou, de alguém que se modificou com o tempo. Recolho pelo caminho dessa leitura a generosidade de Lygia em dividir conosco o momento especial de sua criação. Suas artes, escritas e reescritas; seu fazer e desfazer; seu dom de transformar a palavra em vida. Ana Paz que o diga.
Por isso, a você que me lê, estendo esse convite que recebi lá atrás, quando abri, pela primeira vez, uma página de Lygia Bojunga.
foto: tapeçarias criadas por Maria Teresa Nascimento Brito