Leituras no Salão
Participo de grupos de
leitura. Um livro é escolhido, cada um lê, e depois nos encontramos para
conversar sobre ele. Para trocar leituras, ideias, olhares. Sempre muito bom.
Naquele dia, seria um pouco diferente:
eu e Ana Cristina Melo leríamos, no evento, para pessoas que podiam ou não
conhecer os textos a priori. Proporíamos, ou tentaríamos provocar, uma conversa
sobre o que fosse lido. Ana Cristina leria O
Fio da Palavra, de Bartolomeu Campos de Queirós; eu, Os Colegas, de Lygia Bojunga, em comemoração ao aniversário de 40
anos do livro em 2012. Sempre uma apreensão – como será? quantos ouvintes? Eram
três. Uma soma de cinco: duas leitoras + três ouvintes. Grupo pequeno.
Esperamos um pouco. Ana
Cristina, então, começou a leitura e nos conduziu pela força e encanto do texto
fazendo comentários entre um trecho e outro, comentários pertinentes e
emocionados. Muito ouvimos sobre a riqueza da fantasia e sua importância, sobre
a vida, o ato de criar. E tocados pela emoção do texto e a da Ana, sentados em
círculo, olhos nos olhos, naturalmente a conversa aconteceu.
Chegou a vez de Os Colegas. Como éramos poucos, os
exemplares disponíveis nos permitiram repartir a leitura. Cada um leu um
trecho, emprestou sua voz para um texto que é grande exercício da fantasia. Um
texto para crianças discutindo valores, exaltando a liberdade, cuidando de feridas.
Se Bartolomeu nos tinha acendido a emoção, o olhar para dentro, Lygia acabou de
nos fazer falar e nos dar a conhecer. Como acontece nos grupos de leitura de
que participo: cada um falou um pouco sobre o que acredita, seus fazeres,
pensamentos, o que lhe tocou nas leituras. Cada um, na sua medida, se colocou.
Assim estivemos perto um do outro; um tempo curto, mas tão intenso.
“Pra mim, livro é vida” é
uma frase de Lygia. “A vida é um fio,/ a memória é seu novelo”, versos de Bartolomeu.
A lembrança daqueles momentos me faz pensar nisso, em quanto é mágico o
compartilhar leituras. A literatura nos faz tocar nós mesmos e tocar o outro.
Vida. Tempo. Pessoas. Que tarde agradável! Éramos cinco: não poucos.
Edna Bueno
Escritora
foto: arquivo pessoal, Casa Lygia Bojunga, 2011