Fundação Cultural Casa Lygia Bojunga

Fundação Cultural Casa Lygia Bojunga
Un Novo Nicho pra Santa

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um Encontro com Lygia Bojunga

Ninfa Parreiras

            Poucos autores da literatura brasileira ficaram conhecidos internacionalmente, com traduções para dezenas de países. Lygia Bojunga é um deles. Detentora de dois prêmios internacionais, pelo conjunto da sua obra (Prêmio Hans Christian Andersen – HCA do International Board on Books for Young People – IBBY, 1982; e Astrid Lindgren Memorial Award - ALMA, 2004), todos os seus livros são também premiados no nosso país. São 22 obras em 41 anos de carreira.
            Além desses reconhecimentos notáveis, Lygia é uma empreendedora das palavras. Gosta de experimentar, de pôr a mão na massa, de tocar as palavras e de ver como se ajeitam no papel. De brincar com as letras. Como escritora, possui uma obra voltada ao público infantil, juvenil e adulto. A partir de 1988, com a publicação de Livro: um encontro com Lygia Bojunga, as obras têm um foco voltado ao leitor adulto, pela abordagem das questões subjetivas do nosso universo. Lygia já havia trabalhado a infidelidade, o abandono, o suicídio, sob a ótica do pequeno leitor: o olhar, o escutar da criança. Nas obras da década de 1990 em diante, suas personagens estão voltadas às questões do universo da maturidade adulta, mesmo quando há a retomada da infância, como em Fazendo Ana Paz, por exemplo. Ao repararmos sua obra, notamos que o ponto de vista do narrador cresce com o leitor. Seus primeiros livros podem ser apreciados pelas crianças e os livros mais recentes são mais apreciados pelos adultos.
            Os recursos que fazem de um texto literatura estão presentes na criação de Lygia (para citar alguns): o uso da verossimilhança, da metalinguagem, da intertextualidade, da metáfora, do jogo de palavras, da polissemia. Cada livro da autora é uma metáfora por si só: da infância, da miséria social, da vida urbana, da paixão.


Boa Liga: Pedro do Rio, RJ, 2008

            Lygia experimentou a edição e a produção de livros, feitos de uma forma artesanal. Em 1996, publicou Feito a mão. E em 2002 publica o primeiro livro da Casa Lygia Bojunga: Retratos de Carolina, que administra hoje juntamente com a Fundação Cultural Casa Lygia Bojunga no Rio de Janeiro. A Fundação apóia e desenvolve projetos ligados ao livro. Vale a pena consultar o site e passear pelas obras e espaços: http://www.casalygiabojunga.com.br
São trabalhos e projetos interligados: os livros, as personagens, a Casa editora, a Fundação, a Boa Liga, o Paiol de histórias, o Novo Nicho pra Santa... como se todos formassem uma unidade, nos moldes da coleção da obra literária (mesmo formato de livros, mesma cor de fundo nas capas). “Uma costura”, “um redondo”, nas palavras da autora. Um livro é independente do outro, mas também está ligado a outro por aspectos comuns (valores universais e sociais, por exemplo); uma personagem é distinta da outra, mas povoam o mesmo território de criações de Lygia Bojunga. Um projeto de vida, de autoria, de trabalhos culturais e sociais com coerência e dedicação!
            Há mais de quinze anos, tenho ministrado cursos e oficinas para adultos sobre a obra da Lygia, grupos de leitura e de estudo. O que mais me surpreende é a afetação que a leitura de uma obra provoca no leitor. Depois de ler um conto, uma novela, o leitor não é a mesma pessoa. As pessoas ficam surpresas ou incomodadas com alguma coisa da narrativa, a ponto de discutirem contra ou a favor do destino da personagem. Ficam tocadas de maneiras diferentes. Uma inquietude gostosa. Há um mergulho apaixonado dos leitores. Alguns se sentem fazendo parte do contexto da história.
No conto “Tchau”, há quem fique do lado de Rebeca; há quem fique do lado da mãe... É um conto de ruptura social e ideológica: a mudança no papel da mulher na sociedade e a mudança na configuração familiar. Ainda não presenciei um leitor sair neutro depois da leitura de “Tchau”.

            Também tenho notado como as pessoas se emocionam: suas memórias subjetivas são reativadas e chega um fluxo de lembranças, de associações, de falas... O passado vem, mistura-se ao presente. A fala do leitor se mistura à fala da autora e outro livro passa a existir: o da subjetividade de cada leitor.
            Outra coisa que me chama a atenção é a generosidade da Lygia: ela revela ao leitor seus passos, seu caminhar, no “Pra você que me lê” (texto que abre ou fecha a maioria das suas obras). Ela compartilha, divide com o leitor suas dúvidas, seu processo. Aliás, sua obra se dá em processo, não planejada, construída ao longo do seu papel como transmissora da cultura brasileira, do linguajar do povo, da gente das periferias.
            Questões existenciais, sociais, ideológicas... Tudo isso está presente em sua obra. Seus textos da década de 1970 anteciparam os grandes problemas sociais que vivemos hoje: violência, abandono, desigualdade social... Algumas palavras de leitoras sobre seus textos:
“Mas ela subiu um morro e entrou num barraco? É igualzinha a descrição. Incrível essa autora!” (em relação ao conto “O bife e a pipoca”).
“Nossa! Que maldade com a menina! Mas tem mãe que é ruim assim mesmo. A Lygia mostra uma mãe bisca. Isso existe mesmo!” (sobre o conto “Tchau”). “Parece até que a Lygia foi menino de rua! Vê isso que ela faz nos Colegas. Só quem viveu à margem, conhece a pobreza.” (sobre Os colegas)
            E agora, lembramos a mensagem “A troca”, publicada em Livro: um encontro com Lygia Bojunga e divulgada na década de oitenta como mensagem do Dia Internacional do Livro Infantil. Nela, Lygia se revela como criança, leitora, escritora, mulher, adulta, construtora, criadora, com uma linguagem poética, deliciosa de ler e de escutar. Uma generosidade com os leitores e com os livros!

fotos: arquivo pessoal, Boa Liga, verão 2008


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Encontros literários setembro 2013

Encontros Literários setembro 2013

Dia 12 de setembro, quinta-feira

15h30/17h30: leitura e bate-papo
Cartas a um jovem poeta, Rainer Maria Rilke e poemas de diferentes poetas

19h/21h: leitura e bate-papo
Retratos de Carolina, Lygia Bojunga

foto: arquivo pessoal, Um novo nicho pra Santa, verão 2012